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1ºResumo
AS FRUSTRAÇÕES OCULTAS DOS OBJETOS DO DIA-A-DIA
Antes de escrever este livro, eu era um cientista cognitivo, interessado em saber como funciona a mente humana. Estudei a percepção, memória e aten- ção humanas. Pesquisei em detalhe como as pessoas aprendiam e como desempenhavam atividades especializadas. Ao longo do tempo, acabei por me interessar pelo erro humano, na esperança de que meu conhecimento acerca do erro oferecesse maneiras de ensinar as pessoas a evitar erros. Mas então ocorreu o acidente na usina de energia nuclear de Three Mile Island nos Estados Unidos, e eu fazia parte do grupo de cientistas sociais e comportamen- tais convocados para determinar por que os operadores da sala de controle central tinham cometido erros tão terríveis. Para minha surpresa, concluímos que a culpa não era deles, a culpa era da concepção e desenho do projeto do controle central. De fato, os painéis de controle de muitas usinas geradoras de energia pareciam ter sido deliberadamente projetados para causar erros.
Meu interesse por acidentes me conduziu ao estudo de desenvolvimento de procedimentos centrados no ser humano que pudessem eliminar esses problemas. Passei um ano de licença para viagem de estudos em Cambridge, na Inglaterra, na mundialmente famosa Unidade de Psicologia Aplicada do Conselho de Pesquisa Médica, e me vi continuamente achando graça e ao mesmo tempo frustrado pela maquinaria do prédio. Era difícil descobrir que interruptor controlava qual lâmpada. As portas eram mais um quebra-cabeça: algumas tinham de ser empurradas, outras puxadas, e pelo menos uma precisava ser corrida para o lado, contudo não havia pistas para a pessoa desavisada
Comecei a observar como as pessoas lidavam com os numerosos dispositivos que povoam nossas vidas. Em anos mais recentes, meus estudos se expandiram de modo a incluir a segurança na aviação, instalações de fábricas complexas, erro médico e uma ampla variedade de produtos de consumo, tais como sistemas de entretenimento e computadores domésticos. Em todas essas situações as pessoas quase sempre se vêm nervosas e confusas. Pior, a responsabilidade por acidentes sérios é, com frequência, atribuída a “erro humano”. Contudo a análise cautelosa dessas situações mostra que o desenho de projeto ou a instalação do equipamento contribuíram de maneira significativa para os problemas. A equipe de design de projeto não dedicou atenção suficiente às necessidades daqueles que usariam o equipamento, de modo que confusão ou erro eram quase inevitáveis. Quer fosse o fogão de cozinha ou a usina de energia nuclear, o automóvel ou a aeronave, o termostato ou o com- pautador, os mesmos problemas estavam presentes. Em todos os casos, defeitos no design provocaram o erro humano.
Minhas frustrações, enquanto estava na Inglaterra, levaram-me a escrever O design do dia-a-dia, mas os problemas com que me deparei são universais e encontrados no mundo inteiro. Quando escrevi este livro, era um cientista pesquisador, interessado nos princípios da cognição. Mas me descobri cada 1 vez mais fascinado pela maneira como esses princípios podiam ser aplicados para melhorar a vida quotidiana, minimizar erros e acidentes.
O TÍTULO DO LIVRO: UMA LIÇÃO DE DESIGN
Este livro foi publicado sob dois títulos. O primeiro título, The Psychology of Everyday Things [A psicologia dos objetos do dia-a-dia], foi muitíssimo aprecia- do por meus amigos do mundo acadêmico. O segundo título, O design do dia-a-dia, foi mais significativo e transmitiu melhor o conteúdo do livro. O editor da edição em brochura me explicou que, nas livrarias, os títulos são o que os leitores vêem enquanto seus olhos vagueiam pelas prateleiras, exami- nando rapidamente as lombadas. Eles confiam no título para descrever o livro. Também aprendi que a palavra “psicologia” fazia com que o livro fosse colocado nas prateleiras das seções de psicologia das livrarias, que atraíam leitores que se interessavam por pessoas e por relacionamentos humanos e não por objetos e nossos relacionamentos com eles. Leitores interessados em design nunca pensariam em procurar na seção de psicologia. Fui a livrarias e observei como as pessoas folheavam livros. Conversei com compradores e com vendedores de livros. Meu editor estava certo: eu realmente precisava trocar a palavra “psicologia” por “design”. Ao dar o título para meu livro, eu havia cometido a falta de ter a mesma imprevidência que resulta em todas aquelas coisas impossíveis de usar no dia-a-dia! Minha primeira escolha de títu- lo tinha sido a de um designer egocêntrico, escolhendo a solução que me agra- dava sem levar em consideração seu impacto sobre os leitores. De modo que O design do dia-a-dia se tornou o título, permanecendo nesta nova edição.
LIÇÕES APRENDIDAS COM O DESIGN DO DIA-A-DIA
Quando você tem dificuldade com uma coisa qualquer – quer seja descobrir se deve puxar ou empurrar uma porta ou os caprichos arbitrários do compu- tador e da indústria eletrônica moderna, não é sua culpa. Não ponha a culpa em si mesmo, ponha a culpa no designer. A falha é da tecnologia ou, mais precisamente, do design.
Quando vemos um objeto pela primeira vez, de que modo aprendemos a usá-lo? Como administramos as dezenas de milhares de objetos, muitos dos quais só encontramos uma única vez? Essa pergunta foi o que me impulsionou a escrever O design do dia-a-dia. A resposta, determinei rapidamente, era que a aparência do dispositivo ou aparelho deveria dar as indicações de importância.
crítica necessárias para sua operação apropriada – o conhecimento tem de estar ao mesmo tempo na cabeça e no mundo.
Na época em que escrevi O design do dia-a-dia, essa idéia era considera- da estranha. Hoje em dia, contudo, o conceito é mais amplamente aceito. Muitos na comunidade do design compreendem que o design deve transmi- tir a essência da operação do aparelho; a maneira como ele funciona, as ações possíveis que podem ser executadas; e, através do retorno de informações, exa- tamente o que ele está fazendo em qualquer dado momento. O design é na ver- dade um ato de comunicação, o que significa ter um profundo conhecimento e compreensão da pessoa com quem o designer está se comunicando.
Embora O design do dia-a-dia aborde numerosos tópicos, três acabaram por se destacar como sendo críticos:
1. Não é sua culpa: Se existe alguma coisa que caiu no gosto do público, é esta idéia simples: quando as pessoas têm dificuldade com alguma coisa, a culpa não é delas é do design. Toda semana me chega uma carta ou mensa- gem de correio eletrônico de alguém me agradecendo por tê-lo libertado de seu sentimento de incompetência.
2. Princípios de design: Tenho por regra não criticar alguma coisa a menos que eu possa oferecer uma solução. O design do dia-a-dia contém vários prin- cípios de design importantes, ferramentas poderosas para que designers se certifiquem de que seus produtos sejam compreendidos e usáveis. Os princí- pios, é claro, são explicados neste livro, mas para dar-lhes idéia do que encon- trarão, aqui está uma pequena lista dos mais importantes. Observem que todos eles são de fácil compreensão, mas poderosos.
• Modelos conceituais. A mente humana é um maravilhoso órgão de com- preensão e conhecimento – estamos sempre tentando encontrar significado nos acontecimentos ao nosso redor. Uma das maiores de todas as frustrações é tentar aprender como fazer alguma coisa que parece completamente arbitraria, inconstante e caprichosa. Pior, quando nos falta a compreensão, temos a tendência de errar.